TERAPIA CRANIOSSACRAL

O QUE É TERAPIA CRANIOSSACRAL

O sistema craniossacro é um sistema fisiológico hidráulico semifechado composto pelas meninges, pelos ossos que com elas se relacionam, pelo líquido cefaloraquidiano, pelas partes não-ósseas compostas de tecido conectivo relacionadas às membranas meníngeas e pelas estruturas de produção do líquor.

A terapia se fundamenta na pulsação craniossacral resultante do contínuo processo de produção e reabsorção do líquor, e pela sua circulação por entre as meninges.

A terapia Craniossacral, baseada em toques sutis e específicos, é um trabalho corporal cujo objetivo é desbloquear restrições, que são empecilhos ao funcionamento fisiológico normal dentro do organismo, e dissipar tensões ao longo do corpo todo.

A resposta do corpo como um todo ao sistema craniossacro está baseada no conceito de continuidade fascial.
As manobras craniossacrais, utilizadas para a retirada de aderências ao longo do sistema por onde circula o líquor, e as técnicas de liberação miofascial procuram restabelecer o equilíbrio funcional, podendo proporcionar ao paciente uma atitude mais perceptiva de si mesmo pelo processo autocorretivo que nele se manifesta.
O objetivo de despertar a consciência corporal, através da abordagem da liberação craniana e fascial da terapia Craniossacral, favorece uma via de condução para a busca do equilíbrio, seja através da própria terapia, seja através de meios diversos que o paciente possa vir a perceber.

DESENVOLVIMENTO DA TERAPIA

William Sutherland, osteopata americano, fascinado pelo desenho e estrutura dos ossos cranianos, observou a mobilidade articular entre eles por volta de 1900. A partir de várias experiências, ele identificou através de palpação movimentos rítmicos em crânios de pessoas de diversas idades. Efetivamente, estudos detalhados do crânio humano e de suas suturas indicam o potencial para a mobilidade interóssea, embora o grau de movimento nas suturas seja bem pequeno. Sutherland sugeriu, ainda, a existência de uma força motivadora do movimento craniano, denominada ‘mecanismo respiratório primário.

Ele desenvolveu um modelo no qual o osso esfenóide transmitiria a força para os demais ossos através das articulações com o occipital, temporal, frontal, parietal, etmóide, vomer e zigomático. Neste modelo, o osso esfenóide mover-se-ia em resposta à circulação do líquido cefaloraquidiano e de seu efeito sobre as meninges.
A partir de 1970, o Dr. John Upledger, pesquisador do Departamento de Biomecânica da Universidade Estadual de Michigan e fundador do Instituto Upledger, uniu as técnicas de avaliação e tratamento do Dr. Sutherland com suas próprias observações sobre a movimentação do sistema de meninges e com seu conhecimento científico para desenvolver e comprovar as manobras da terapia CrânioSacral.

Nos estudos da osteopatia craniana, a natureza física da sutura determina o tipo de movimento que ela permite que seja realizado. Analisando-se o crânio como um modelo mecânico, o movimento de um osso induz o movimento de outros ossos relacionados, fazendo com que todo o crânio se mova em resposta à força motivadora que, no modelo utilizado, se deve à diferença de pressão pela produção e absorção do líquido cefalorraquidiano.

É preciso separar, no entanto, a palpação do impulso rítmico craniano (IRC) da avaliação dos movimentos que acontecem entre as diversas articulações que compõem o crânio. Esse movimento não se manifesta como nas outras articulações do corpo, ele é uma elasticidade composta de uma acomodação na articulação aliada à flexibilidade do osso vivo. A sutura é um tipo de articulação que une as bordas de ossos contíguos com tecido conectivo. As suturas cranianas podem ser classificadas como: denteada, serreada, escamosa, esquindilese, lumbosa e plana.

ESTRUTURA

A ponte formada entre o occipital e o esfenóide compõe-se de tecido cartilaginoso do tipo hialina, sendo esta articulação classificada como sincondrose. Estudos histológicos feitos em macacos adultos, dos quais foram retirados amostra de tecido ósseo do crânio, não mostraram nenhuma evidência de ossificação das suturas.

Nas amostras estudadas, as suturas apresentavam cinco camadas distintas de células e fibras entre as bordas articulares dos ossos. A camada mais externa é uma zona de tecido conjuntivo que transpassa a sutura, promovendo a ligação entre os ossos, mas permitindo algum movimento entre eles.

A existência de vasos sangüíneos e de fibras nervosas também eram evidentes. Embora não se saiba a função das fibras nervosas, elas podem estar envolvidas no efeito fisiológico da terapia craniana.

O encéfalo e a medula espinhal são estruturas fundamentais para o funcionamento do corpo e, no entanto, são delicadas e frágeis. São protegidos por um envoltório ósseo representados pela cavidade craniana e pelo canal vertebral respectivamente. As meninges compõem outra parte deste mecanismo protetor.

No interior deste revestimento ósseo, circulando no espaço subaracnóideo, o líquido cefalorraquidiano atua como um acolchoamento líquido entre o estojo ósseo e o sistema nervoso central e tem a função de amortecer os choques aos quais o sistema nervoso está sujeito. O líquido cefalorraquidiano, ou líquor, tem também a função de retirar os resíduos do metabolismo, servir como meio de difusão de células de defesa imunológica e de nutrir o epêndima e estruturas periventriculares.

RITMO CRANIOSACRAL

No modelo de John Upledger, o ritmo crâniosacral é resultado da variação de pressão entre o sangue arterial, o líquido cefaloraquidiano e do sangue venoso. Pelo estudo anatômico das estruturas que compõem o sistema craniossacro, verificase a relação das partes ósseas do crânio e da coluna vertebral, com as membranas conjuntivas que encobrem o sistema nervoso e formam um circuito interno de conexão entre os ossos, e do líquido cefalorraquidiano, circulando pelo sistema de meninges e responsável pela pulsação rítmica.

Esta pulsação pode ser percebida em qualquer parte do corpo devido ao tecido conectivo, a fáscia, que envolve as estruturas viscerais e musculares de forma contínua. A fáscia liga mecanicamente o conjunto dos elementos de locomoção. Todo o movimento ritmado de qualquer um desses elementos acarreta o movimento ritmado de todos os outros.

SOBRE AS MANOBRAS CRANIOSSACRAIS

As manobras craniossacrais servem tanto para diagnóstico quanto para tratamento do sistema craniossacro. Como diagnóstico pode-se avaliar a amplitude, a freqüência e a qualidade da pulsação, verificando a vitalidade da pessoa como um todo. No modelo de John Upledger, o ritmo craniossacral é resultado da variação de pressão entre o sangue arterial, olíquido cefaloraquidiano e do sangue venoso.

A terapia craniosacral encontra-se em estreita relação com os movimentos mais sutis que o corpo manifesta seja na liberação de microtensões musculares, na retirada de aderências fasciais, no aprofundamento da respiração, seja numa instância mais interna, ao propiciar um momento de silêncio interior e relaxamento, condições férteis para que o paciente tenha a percepção do estado do corpo e para que haja o afloramento de sensações. Assim ela proporciona a possibilidade de se abordar aspectos ainda desconhecidos e integrá-los como uma nova experiência vivida, fatores essenciais no desenrolar de processos internos e de evolução pessoal.

CONCLUSÂO

Com o uso da terapia craniossacral, devido à sua influência sobre o sistema nervoso central e aos resultados verificados na prática, o terapeuta pode tratar disfunções específicas e concomitantemente viabilizar a ampliação do processo de entendimento dos determinantes da disfunção, o que possibilita ao paciente refletir e construir sobre seu próprio processo de restabelecimento da saúde, que é subjetivo e portanto dependente do próprio paciente e do vínculo que se estabelece com o terapeuta.

 

REFERÊNCIAS

BARRAL, Jean-Pierre, Visceral Manipulation. Seattle: Eastland Press, 1988.
BERTHERAT, Thérèse, BERNSTEIN, Carol. O corpo tem suas razões. São Paulo: Martins Fontes, 2001.
BIENFAIT, Marcel. Fisiologia da terapia manual. São Paulo: Summus, 1989.
CHAITOW, Leon. Teoria e prática da manipulação craniana. Rio de Janeiro: Manole, 2001.

Terapeuta responsável

Dr. Ronaldo G. Vaz de Carvalho

Fisioterapeuta

Membro da SBA (Sociedade Brasileira de Anatomia).

 

Terapeuta manual formado pela Intensive Training on Myofascial Trigger point and Proprioceptive Therapy, Hands-on, New York 10019.

 

Membro da Aliança do Yoga e International Yoga Federation, osteopatia craniana, criador da técnica do yoga visceral.